Por que Xenogears merece uma segunda chance
Em um cenário onde jogos como Clair Obscur: Expedition 33 reacendem o interesse pelos RPGs de turno, poucos títulos do passado clamam tanto por redenção quanto Xenogears. Mais do que um clássico cult, ele é um símbolo de ambição que ultrapassou os limites técnicos de sua época — e que agora, com as ferramentas certas, pode finalmente alcançar seu potencial completo.
Um RPG à frente do seu tempo
Lançado em 1998 para o primeiro PlayStation, Xenogears foi um projeto audacioso desde o início. Criado por Tetsuya Takahashi e Kaori Tanaka (Soraya Saga), o jogo nasceu de uma proposta rejeitada para Final Fantasy VII — considerada sombria demais. Mas, em vez de ser descartado, o projeto ganhou vida própria com o aval de Hironobu Sakaguchi, tornando-se uma das experiências narrativas mais densas e filosóficas da história dos videogames.
Mesmo enfrentando uma produção caótica, com equipe inexperiente em 3D e orçamento apertado, Xenogears entregou algo inesquecível: uma trama que misturava ficção científica, psicologia profunda e simbolismos religiosos com um sistema de combate inovador.
As falhas do passado podem ser corrigidas hoje
A maior mancha no legado de Xenogears está em seu infame segundo disco. Por conta de prazos e exaustão da equipe, boa parte da segunda metade do jogo foi transformada em narrativa expositiva. Missões importantes foram resumidas em monólogos, e o que deveria ser jogável virou praticamente um audiobook.
Hoje, com motores gráficos modernos, times experientes e orçamentos mais robustos, esse problema não apenas poderia ser resolvido — ele poderia se transformar em uma das histórias de redenção mais impactantes da indústria.
Os RPGs de turno voltaram a brilhar
Durante um tempo, jogos de turno foram vistos como ultrapassados. Mas 2025 provou o contrário: títulos como Clair Obscur: Expedition 33 demonstraram que, quando bem executados, RPGs com combates por turno ainda podem surpreender, emocionar e inovar.
Xenogears, com seu sistema de “deathblows” e batalhas em mechas com gerenciamento de combustível, já trazia ideias avançadas para a época. Com refinamento moderno, poderia competir com os grandes nomes atuais e até influenciar uma nova geração de RPGs.

Narrativa densa e temas maduros
Poucos jogos tiveram a coragem de mergulhar tão fundo na psique humana quanto Xenogears. De Freud a Jung, passando por teorias como a de Karen Horney, o jogo trata de traumas, identidade, controle e fé — sem cair em simplificações.
Esses temas são mais relevantes do que nunca. Em uma indústria que amadureceu junto com seu público, há espaço — e demanda — por narrativas provocativas e filosóficas. Um remake poderia expandir essas ideias com mais tempo, mais detalhes e escolhas impactantes.
Uma chance de fazer justiça à arte original
A trilha sonora de Yasunori Mitsuda e a direção de arte mista (sprites 2D com cenários 3D) ainda são elogiadas hoje. Mas imagine tudo isso com gráficos atualizados, dublagem de qualidade e uma trilha sonora remasterizada com orquestra completa?
Além disso, o trabalho heroico do tradutor Richard Honeywood, que sozinho adaptou um dos roteiros mais complexos da Square, merece ser refeito com os recursos adequados, preservando o espírito da obra mas tornando-a mais acessível.
O que falta é coragem — e vontade
Xenogears não precisa mais provar seu valor. Ele já está gravado na memória dos jogadores como uma joia imperfeita. O que falta é uma nova chance de mostrar o que ele poderia ter sido, agora com o tempo, a tecnologia e a visão que sua equipe original nunca teve.
O público está pronto. Os RPGs de turno estão em alta. A indústria já viu outros projetos de redenção — como Final Fantasy VII Remake — triunfarem. Então, por que não dar a Xenogears o mesmo destino?