The Last of Us Part 2 Nunca Funcionaria Como Série de TV
A adaptação de The Last of Us para a HBO foi inicialmente recebida com entusiasmo. O sucesso da primeira temporada, baseada no jogo original, parecia indicar que a jornada emocional e brutal de Ellie e Joel poderia ser traduzida com fidelidade para as telas. No entanto, quando se trata de The Last of Us Part 2, as engrenagens da TV começam a ranger. Não é apenas uma questão de execução — o problema está na própria essência do que o jogo representa.
A Força de The Last of Us Part 2 Está na Interatividade
Diferente de seu antecessor, The Last of Us Part 2 é uma experiência construída sobre camadas de empatia, vingança e desconforto. A interatividade não é um bônus — é a ferramenta que transforma o jogador em cúmplice. Desde os primeiros minutos, sentimos na pele a dor de Ellie após a morte brutal de Joel. O jogo nos conduz pela espiral de violência sem oferecer saídas fáceis, forçando-nos a agir por ela e, por fim, a questionar se tudo aquilo valeu a pena.
Esse tipo de imersão emocional é exclusivo do videogame. É o ato de jogar como Ellie, e depois como Abby — a suposta antagonista — que faz o jogo transcender. Somos obrigados a nos colocar no lugar de ambos os lados, revivendo os mesmos eventos sob diferentes perspectivas. Na série, tudo isso é entregue de forma direta, quase didática.
A Série Acelera o Que Deveria ser Gradual
Na adaptação, os elementos que deveriam surgir lentamente são apresentados de forma frontal. Já no início, sabemos quem é Abby, sua motivação e o que ela pretende fazer. O jogo, por outro lado, esconde essas informações para gerar um impacto emocional profundo no momento em que as verdades vêm à tona.
Essa pressa narrativa compromete o efeito surpresa e a construção de empatia. A série parece temer que o público não “aguente” a ambiguidade, e por isso entrega explicações em excesso. Em vez de nos fazer sentir, a adaptação prefere nos contar.
Flashbacks e Ritmo Descompassado
Outro problema está na forma como os flashbacks são usados. No jogo, eles surgem organicamente, dando peso às decisões dos personagens e permitindo uma conexão mais íntima com suas memórias e traumas. Na série, esses momentos são despejados de maneira abrupta, quebrando o ritmo da narrativa e reduzindo o impacto emocional.
Ellie e Abby Perdem Profundidade na TV
O maior trunfo do jogo está na jornada espelhada entre Ellie e Abby. Ambas são vítimas e vilãs, dependendo do ponto de vista. A série, ao entrelaçar suas histórias de forma apressada e sem a interatividade que o jogo oferece, esvazia a força dessas trajetórias. Faltam tempo, espaço e, principalmente, escolhas.
Nos videogames, The Last of Us Part 2 é uma experiência desconfortável e provocadora. Na série, se torna uma narrativa diluída, presa às limitações do formato e ao medo de alienar o público.
A Adaptação Ainda Tem Valor?
Sim. A produção da HBO é tecnicamente impecável e oferece momentos memoráveis. Mas para quem viveu o jogo, fica evidente que certos sentimentos simplesmente não podem ser traduzidos sem o controle do jogador. A série até tenta, mas o que a torna boa é exatamente o que a impede de alcançar a grandeza do jogo.