O novo padrão de preço: US$80 nos EUA, R$450 no Brasil
A indústria dos games está passando por uma transformação silenciosa, mas profunda: o preço base de grandes lançamentos está subindo para US$80 nos Estados Unidos. Nintendo e Xbox já aderiram à nova faixa, e a Sony, apesar de ainda manter seus jogos a US$70, já sinaliza que é apenas questão de tempo para seguir o mesmo caminho.
No entanto, enquanto lá fora se discute um aumento de 10 dólares, no Brasil a realidade é bem mais dura: títulos estão batendo R$450 na pré-venda — e o mais alarmante é que muita gente está tratando isso como normal.
Ghost of Yotei e o experimento de aceitação
O caso mais recente é Ghost of Yotei, exclusivo do PlayStation que ainda mantém a versão padrão por US$70, mas cuja edição digital deluxe de US$80 está vendendo mais que a básica. O jogo inclui alguns bônus cosméticos, armaduras extras e outras regalias, nada essencial — mas aparentemente o suficiente para justificar um gasto adicional.
Essa popularidade da edição mais cara serve como um alerta: os consumidores estão demonstrando que estão dispostos a pagar mais, mesmo quando a versão mais barata entrega a mesma experiência central. E isso dá à Sony um sinal verde para subir os preços sem grandes resistências.
O problema no Brasil é muito mais grave
A discussão nos EUA gira em torno de US$10. Aqui, o impacto real é brutal. Com o dólar oscilando entre R$5,00 e R$5,30, um jogo de US$80 rapidamente vira R$400, R$450 ou até mais em pré-venda — isso quando não se trata de uma edição deluxe, que ultrapassa os R$500 com facilidade.
O que antes era um presente de aniversário virou um investimento digno de eletrodoméstico.

O mercado brasileiro está anestesiado?
O mais preocupante não é só o preço alto — é a naturalização dele. Fóruns, redes sociais e grupos de jogadores mostram uma tendência crescente de aceitação. “Pelo menos vem com conteúdo extra”, dizem alguns. “Está dentro do esperado”, dizem outros. Mas esperar e aceitar que pagar quase meio salário mínimo em um único jogo é algo “normal” revela o quanto a régua foi deslocada para cima.
É só o começo?
A grande questão é: até onde isso vai? Se Ghost of Yotei a R$450 vende bem, o que impede o próximo grande lançamento de chegar a R$500 ou R$600? Com a Sony prestes a lançar Death Stranding 2, e com a concorrência já operando nos US$80, o cenário aponta para uma escalada inevitável.
E a culpa não é só das empresas — é também de um público que, por falta de alternativas ou por paixão, acaba validando decisões corporativas prejudiciais.
Reflexão final: precisamos mesmo pagar tanto?
Não se trata de demonizar quem compra. Cada um gasta como quiser. Mas é preciso manter o senso crítico ativo. Preço alto não deveria ser visto como padrão. E o Brasil, com seu poder de compra muito inferior ao dos países desenvolvidos, deveria receber tratamento diferenciado — e não apenas conversões diretas de dólar para real.
Enquanto isso não acontece, cabe a nós refletir: vale mesmo a pena pagar R$450 por um jogo, ou estamos nos acostumando com um abuso silencioso?