Desde seus primeiros títulos, Grand Theft Auto sempre foi mais do que um jogo de ação. A franquia ficou famosa por usar o caos e o humor ácido como ferramentas de crítica social, zombando de tudo — do consumismo desenfreado à hipocrisia política. Porém, com o lançamento dos trailers de GTA 6, muitos jogadores começaram a se perguntar: a sátira desapareceu?
Um mundo realista, mas sem a mordida
O segundo trailer de GTA 6 apresenta os protagonistas Jason e Lucia em meio a um mundo que, embora visualmente impressionante e detalhado, parece mais um espelho do real do que uma paródia dele. Vemos pessoas em situação de rua, policiais agindo com brutalidade, ostentação em festas e clubes… tudo extremamente fiel à realidade americana. Mas fiel demais.
A sensação é de que a Rockstar decidiu retratar o mundo como ele é, em vez de exagerá-lo para provocar reflexão — marca registrada da franquia. A crítica perde força quando se limita à reprodução.

Onde estão os alvos óbvios?
Em outros tempos, seria impensável um jogo da série GTA não fazer referência direta a figuras políticas como Donald Trump, à pandemia ou a movimentos culturais polarizadores como o MAGA. Mas em GTA 6, tudo isso está ausente.
Mesmo com elementos como streamers dançando em cima de carros da polícia ou anúncios de lojas de armas, o tom parece mais cômico do que crítico. O personagem Cal Hampton, uma figura caricata e teórica da conspiração, chega a lembrar os exageros de outros jogos da franquia, mas ainda soa contido perto do que já vimos em GTA San Andreas ou GTA V.
Uma escolha ou uma limitação?
Vale lembrar que o desenvolvimento de GTA 6 levou mais de uma década. Como criar sátira quando a realidade muda mais rápido do que o ciclo de desenvolvimento permite? O que era provocador em 2015, hoje pode parecer datado — ou já superado por manchetes reais que beiram a ficção.
É possível que a Rockstar tenha escolhido um caminho mais seguro, evitando polêmicas diretas e focando em um enredo mais íntimo e cinematográfico. Jason e Lucia lembram um casal à la Bonnie e Clyde, e esse pode ser o foco principal da narrativa.
Ainda há esperança?
Isso não significa que o jogo será ruim. A ambientação em Vice City continua promissora, e o potencial de uma narrativa centrada em dois personagens com objetivos pessoais e traumas pode render uma história envolvente. Mas para quem esperava por uma crítica mordaz ao estado atual da sociedade, talvez seja melhor ajustar as expectativas.