Clair Obscur: A jornada surpreendente de um RPG nascido fora dos padrões
Em uma indústria de jogos marcada por demissões em massa e projetos arriscados que muitas vezes se perdem em burocracia corporativa, Clair Obscur: Expedition 33 surge como um sopro de criatividade independente. O que torna esse RPG francês tão especial não é apenas seu estilo artístico ousado ou seu combate por turnos refinado, mas a história por trás de sua criação — uma verdadeira exceção à regra no cenário atual dos games.
Da frustração na Ubisoft ao nascimento da Sandfall Interactive
Tudo começou com Guillaume Broche, um ex-desenvolvedor da Ubisoft que, cansado da rotina corporativa, decidiu dar um salto de fé. Ao invés de buscar financiamento imediato ou se aliar a uma publisher, ele começou com o básico: montar uma equipe por conta própria.
Mas ao contrário do caminho tradicional, ele foi direto às redes sociais.

Recrutando talentos onde ninguém espera: Reddit e SoundCloud
Broche publicou convites no Reddit buscando dubladores para um projeto de demonstração. Uma dessas postagens chegou até Jennifer Svedberg-Yen, que nunca havia trabalhado com jogos antes, mas decidiu tentar. O que era para ser apenas uma audição vocal acabou evoluindo: Jennifer se destacou tanto que foi convidada a assumir o papel de roteirista principal do jogo.
O mesmo aconteceu com o compositor Lorien Testard, encontrado no SoundCloud. Embora ele também não tivesse experiência em jogos, sua afinidade artística com o diretor — gostos semelhantes por filmes, música e referências estéticas — fez com que a colaboração fluísse naturalmente. Resultado: uma trilha sonora elogiada e perfeitamente integrada ao universo de Clair Obscur.
Um RPG que já disputa espaço entre os grandes
O resultado desse esforço independente é Clair Obscur: Expedition 33, um RPG por turnos com visual marcante e atmosfera poética que vem conquistando a crítica e o público. Já há quem considere o título um sério candidato a Jogo do Ano, e não é por acaso: ele entrega um produto coeso, autoral e, acima de tudo, feito com paixão — uma qualidade que muitas vezes se perde em grandes produções.
A repercussão foi tão grande que até o presidente francês, Emmanuel Macron, manifestou apoio ao estúdio Sandfall Interactive, reforçando o impacto cultural do projeto na cena francesa e internacional.
Um exemplo raro — e inspirador — de sucesso na indústria
Num momento em que grandes estúdios como Ubisoft, EA e Activision enfrentam cortes e polêmicas, é raro ver uma equipe pequena, sem grandes investimentos iniciais, alcançar tamanha repercussão. Mas Clair Obscur: Expedition 33 prova que, com uma visão clara e escolhas criativas acertadas, é possível quebrar o ciclo tradicional de produção e entregar algo realmente único.
O sucesso do jogo também coloca os holofotes sobre o futuro da Sandfall Interactive. Se esse foi o primeiro projeto do estúdio, muitos já se perguntam: o que vem depois?