blueprince

Um castelo, 46 quartos e uma busca que não perdoa erros

Blue Prince não é um jogo fácil de descrever — e isso é um elogio. Trata-se de uma experiência que floresce na descoberta, no inesperado e, acima de tudo, na sensação constante de que há mais camadas escondidas esperando para serem desvendadas. A premissa é simples, mas a execução é profundamente engenhosa: você é o herdeiro da mansão Mt. Holly, e seu objetivo é encontrar o misterioso 46º quarto para garantir sua herança. Só tem um detalhe: a planta da mansão muda diariamente.

Com visual cel-shaded de encher os olhos e uma atmosfera que beira o surreal, Blue Prince se apresenta como um roguelike de arquitetura e quebra-cabeças. Sim, um gênero que talvez nem existisse até esse jogo ousar misturá-los. Cada jogada exige raciocínio tático, leitura do ambiente e, muitas vezes, colaboração — seja com anotações à moda antiga ou em fóruns online tentando decifrar enigmas com outros jogadores.


Estratégia, sorte e a dança dos cômodos

Cada porta aberta é uma nova escolha. O jogo oferece três opções de salas, sorteadas a partir de um baralho de plantas arquitetônicas. Algumas trazem saídas limitadas, outras bloqueiam caminhos ou exigem itens específicos para avançar. Há salas com chaves, moedas, gemas ou quebra-cabeças isolados que, quando resolvidos, revelam códigos secretos, informações de lore e atalhos que só existem naquele dia específico.

Essa rotação diária transforma Blue Prince em um loop viciante. Com movimentos limitados por dia, cada decisão importa. É preciso priorizar, experimentar e aceitar que algumas tentativas simplesmente vão falhar. Mais de 20 horas depois, mesmo sem chegar aos créditos, a sensação de avanço e aprendizado contínuo se mantém firme. Não é um jogo que se vence na força bruta — é necessário paciência e, muitas vezes, uma dose generosa de tentativa e erro.


Uma jornada que exige papel, caneta e paciência

Jogadores que curtiram títulos como Lorelei and the Laser Eyes ou Animal Well vão se sentir em casa aqui. A complexidade dos enigmas e a necessidade de anotar tudo — códigos, datas, conexões entre salas — são parte essencial da experiência. É normal se sentir perdido, errar caminhos ou investir tempo em pistas que, aparentemente, não levam a lugar nenhum.

Mas é justamente aí que mora a mágica de Blue Prince: quando finalmente uma peça se encaixa, a sensação de realização é incomparável. O jogo recompensa os persistentes e frustra os apressados. Seu ritmo é contemplativo, seu design é meticuloso, e sua curva de aprendizado é como um quebra-cabeça dentro de outro.


RNG, conspiração e a recompensa da exploração

Nem toda frustração vem dos puzzles. A aleatoriedade (RNG) também tem um papel crucial. Um bom progresso depende de sinergias entre salas, itens certos no momento certo e sorte nas cartas tiradas. Às vezes, a run perfeita parece estar a um detalhe de distância — e ainda assim escapa por entre os dedos. Ainda assim, mesmo após várias tentativas, é difícil resistir ao impulso de tentar mais uma vez.

Há também uma narrativa sutil, mas envolvente, por trás da arquitetura de Mt. Holly. Uma trama que envolve desaparecimentos, chantagens e intrigas políticas envolvendo um autor de livros infantis. Descobrir o que realmente aconteceu na mansão é uma jornada paralela tão interessante quanto a busca pelo 46º quarto.


Um novo clássico entre os roguelikes de puzzle?

Blue Prince não se encaixa em um rótulo fácil. Ele desafia convenções, obriga o jogador a desacelerar, a pensar fora da caixa e a apreciar a jornada tanto quanto o objetivo final. É um título que não se explica — se vive. E, ao fazê-lo, pode muito bem estar criando um novo subgênero que outros jogos ainda vão explorar.

Se você curte experiências que testam sua mente, sua paciência e sua curiosidade, Blue Prince é praticamente obrigatório. Só não se esqueça de ter um bloco de anotações por perto. Vai precisar.

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