O colapso dos prazos nas gigantes dos games
Não é mais surpresa: os maiores nomes da indústria estão falhando em cumprir o básico — entregar seus jogos no prazo prometido. O recente adiamento de GTA 6, agora empurrado para 2026, é apenas mais um exemplo em uma sequência que parece interminável. Antes disso, vimos a Ubisoft adiar Assassin’s Creed Shadows diversas vezes, para no fim entregar um material que sequer justificava a espera.
Estamos vivendo a era dos adiamentos, e isso diz muito mais sobre falta de planejamento e pressão corporativa do que sobre “polimento adicional”.

Rockstar: a confiança ainda é merecida?
Sim, é justo dizer que a Rockstar ainda tem crédito com o público. Afinal, entregou obras como Red Dead Redemption 2, que elevou o padrão narrativo dos jogos. Mas até onde essa confiança pode ir? GTA 6 foi anunciado com enorme expectativa, prometido para 2025, e já foi empurrado para meados de 2026. A justificativa? Precisam de mais tempo para garantir qualidade.
Mas não é sempre isso que dizem? O problema é que a cada novo projeto, a janela entre anúncio e lançamento fica maior — e mais instável. E o mais grave: muitos desses adiamentos nem sempre resultam em produtos impecáveis.
Ubisoft: três adiamentos, um desastre
A Ubisoft, por exemplo, empurrou o lançamento de Assassin’s Creed Shadows por anos. O resultado foi um jogo que parece ainda em fase de testes, mesmo após sucessivos adiamentos. O problema não está apenas no tempo — mas no uso que fazem dele. Em vez de melhorias substanciais, temos entregas medianas, recheadas de bugs e decisões criativas questionáveis.
Enquanto isso, o público continua sendo bombardeado com trailers cinematográficos e promessas vazias, alimentando um hype que, no final, se transforma em frustração.
A ilusão do “mais tempo é melhor”
Não se engane: mais tempo de desenvolvimento não significa, automaticamente, mais qualidade. A indústria usa esse argumento para justificar atrasos, mas muitas vezes os problemas estão em outro lugar: má gestão de equipe, interferência de acionistas, decisões criativas inconsistentes e mudanças de escopo.
É verdade que crunch e pressão são males reais — e jogos não deveriam ser lançados inacabados. Mas quando estúdios bilionários falham repetidamente na organização e transparência, algo precisa ser revisto. A impressão que fica é de que nem eles sabem exatamente o que estão fazendo.
2025 não precisa de GTA 6
Curiosamente, o adiamento de GTA 6 pode acabar sendo positivo para o mercado como um todo. Com o titã fora do caminho, outros jogos ganham espaço para brilhar: Clair Obscur: Expedition 33, Monster Hunter Wilds, Kingdom Come: Deliverance 2, South of Midnight, Blue Prince e Doom: The Dark Ages são só alguns dos títulos que agora respiram mais aliviados na disputa por atenção e prêmios em 2025.
Mas essa “folga” não apaga a crítica principal: por que os grandes estúdios não conseguem mais entregar o básico?
O que está acontecendo com os grandes estúdios?
Estamos diante de uma nova realidade na indústria AAA: cronogramas irreais, cultura de hype tóxico e foco em lucro a curto prazo. Mesmo com equipes imensas e orçamentos milionários, os jogos mais esperados são os que mais sofrem com instabilidade.
Enquanto isso, estúdios médios e indies têm conseguido entregar experiências sólidas, criativas e pontuais, muitas vezes com menos recursos, mas mais clareza de propósito.
Já passou da hora de rever o modelo
O problema não é atraso — é a normalização do atraso sem autocrítica. Empresas como Rockstar e Ubisoft precisam entender que prometer menos e entregar mais é melhor do que o contrário. Se não conseguem cumprir seus próprios cronogramas, talvez seja hora de reformular não só os prazos, mas o jeito como esses jogos são concebidos desde o início.