Em uma era onde muitos jogos perseguem o realismo gráfico quase fotográfico, Clair Obscur: Expedition 33 escolhe um caminho diferente — e melhor. Em vez de focar apenas em quão real algo pode parecer, o jogo da Sandfall Interactive aposta em como aquilo faz você se sentir. É uma lição de arte visual que muitos estúdios poderiam aprender.
Enquanto jogos como Elden Ring ou Xenoblade Chronicles inspiram pela grandiosidade de suas paisagens, Expedition 33 cria algo familiar, mas montado de uma forma que soa inédita. A estética não apenas impressiona: ela comunica, desestabiliza e instiga.
Visual marcante e proposital
Desde os primeiros minutos, Clair Obscur mostra que sua direção de arte não é mero pano de fundo. Durante o prólogo, o pôr do sol se mistura com a tragédia que acontece diante da multidão — a Paintress, figura colossal e impassível, apaga vidas com um simples gesto de pincel. A cena é visualmente melancólica e pesada, e cada detalhe da luz ao enquadramento contribui para a carga emocional.
Não é sobre beleza técnica. É sobre significado visual. O sol se pondo reforça o fim literal e metafórico de personagens como Sophie. A Paintress, distante e gigantesca, parece alheia ao sofrimento que causa, como uma divindade apática. Tudo isso é transmitido sem uma única linha de diálogo explicativa — apenas arte.

Um mundo entre o real e o simbólico
Outro aspecto brilhante da arte de Expedition 33 é sua abordagem não literal. Em momentos de transição narrativa, como quando a Paintress altera o número no Monólito, os personagens são levados a um vazio escuro — um espaço simbólico onde a lógica da física não se aplica. O jogador é forçado a lidar não com “o que está acontecendo”, mas com “como aquilo deve ser sentido”.
Essa escolha visual confere ao jogo uma qualidade onírica, quase teatral. Em várias passagens, especialmente após a chegada de Gustave ao Continente, é impossível dizer se o que se vê está realmente “acontecendo” ou é apenas uma representação metafórica do impacto emocional dos eventos.
E adivinha? Isso não importa. Porque o sentimento é claro.
Quando o visual conta a história
A arte de Clair Obscur: Expedition 33 mostra que um jogo não precisa ser hiper-realista para ser poderoso. Na verdade, essa busca incessante pelo fotorrealismo tem feito muitos títulos perderem a chance de explorar estilos visuais mais ousados e autorais. Assim como Metaphor: ReFantazio, Expedition 33 entende que a direção de arte é uma forma de narrativa — uma extensão da emoção, da dúvida, da dor.
Se os gráficos já atingiram seu teto tecnológico, está na hora dos estúdios buscarem outros horizontes. Horizontes como os de Clair Obscur, onde a arte não apenas enche os olhos, mas marca a alma.
Arte além do gráfico
Clair Obscur: Expedition 33 não é perfeito em seus aspectos técnicos, mas sua direção de arte é exemplar. É um lembrete poderoso de que um jogo visualmente marcante não depende de realismo, mas de identidade. De atmosfera. De sentimento.
Se você se interessa por jogos com forte apelo visual e narrativo, essa é uma experiência obrigatória.